sexta-feira, 10 de abril de 2009

Carregar o mundo às costas...

Fernando Nobre, médico, cirurgião, urologista e Fundador da AMI - Ajuda Médica Internacional


O que é que a engenharia poderia fazer?
Por exemplo, a implementação de energias alternativas. Mas duvido que enquanto houver combustíveis fósseis, as grandes companhias petrolíferas aceitem inflectir o seu andamento. Porque o aumento do preço do combustível dá-lhes grandes lucros.Contudo, não podemos utilizar biocombustíveis que vão ser produzidos através da utilização e matérias-primas que servem de alimento às pessoas, porque vamos estar a aumentar a fome. Têm de ser criadas outras alternativas, e aí entra a engenharia. Outras questões como a previsibilidade de furacões e outros fenómenos da natureza, também são importantes e estão na esfera da engenharia. Sabemos, por exemplo, que nos últimos dois anos o número de furacões no Golfo do México aumentou em 30%. Independentemente da farda ou do capacete que possamos usar, somos todos cidadãos, e enquanto cidadãos, e tendo as nossas ordens profissionais, cabe-nos também fazer lobby, no bom sentido – entenda-se, pressão sobre a governação global –, para que certos desmandos cessem. E cada um com a especificidade da sua formação poderá falar sobre aquilo que lhe diz respeito. Aqui os engenheiros podem abordar soluções científicas para o que aí vem, e têm que se antecipar. É verdade que demos mundos ao mundo, é verdade que começámos a globalização, para o bem e para o mal. Nós, portugueses, temos alguma responsabilidade histórica para com comunidades no mundo que continuam a viver com os nossos apelidos. Mas acho que não temos que ter vergonha, para o bem e para o mal. Hoje, nessa globalização, temos que fazer parte daquilo que apelido de cidadania global e, de preferência, solidária. Como cidadãos globais, que temos que ser, porque não se pode ser anti-globalização, há que tentar pôr nessa globalização a tal vertente ética, social, histórica, de aproximação, de pontes, de diálogo. Acho que é isso que temos de fazer, criar pontes. E nós, portugueses, se nos virmos como cidadãos globais com a tal vertente social, e por isso solidária, poderemos construir um mundo menos conflituoso, menos inquietante, do que aquele que para já se nos impõe.
E o que acha que dizem as estrelas sobre o futuro do nosso mundo e do nosso planeta...
Estou pessimista. Eu costumo dizer que o optimismo da minha vontade, para já, não se consegue sobrepor ao pessimismo da minha razão. Estou pessimista, mas acredito que o ser humano sempre teve capacidade de reacção perante dificuldades tremendas. Mas acho que a minha geração, a de Maio de 68, se acomodou muito, a muita coisa, e que está a passar um testemunho complicado à geração seguinte.
E como dizia a minha amiga Sophia de Mello Breyner, “nada é mais triste que um homem acomodado”. Porque um homem ou uma mulher acomodada já abandonou a luta.



A simplicidade com que pronuncia frases contra a indiferença ou sobre a forma como salvou e ajudou quem dele necessitou evidencia o seu carácter nobre, a sua filosofia de vida que consiste em privar-se de uma vida confortável e da companhia da família em prol dos despojados de tudo. É louvável tamanha dedicação, humanidade e bondade reunidas numa só pessoa que, apesar dos seus quase 60 anos de vida, continua a colocar o "vós" antes do "eu", coisa que nos dias que correm é cada vez mais invulgar. Uma vida de dedicação ao mundo.

1 comentário:

  1. Ah...E depois de ler a entrevista descobri que também adoro o Fernando Nobre =P

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