segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Anjo Mudo

aqueles que têm nome e nos telefonam
um dia emagrecem - partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz

arquivamos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas

acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração

e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta
nem a vida nem o que dela resta nos consola
a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa

assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amamos e não voltaram
a telefonar

"Só espero que meia dúzia de doidos me leiam agora e isso os toque."
Al berto




3 comentários:

  1. Definitivamente das duas uma...ou tas deprimido ou apaixonado =p

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  2. Estou sempre apaixonado por qq coisa por mais pequena que ela seja:)
    O poema refere-se às pessoas que com o tempo perdemos. Pessoas que nos deixam a saudade daquilo que não volta.
    Não é depressão...é saudade no fundo absurdo da minha recordação. Não choro a perda do meu passado, choro que tudo, e nele se perca:)

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  3. Não chores...vamos mas é p'ró Mercado beber umas cervejitas. Loool

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