segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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"Todas as coisas tombam e são construídas de novo/ E os que as controem outra vez são felizes."
Yeat




Os amigos, pedra firme sobre a qual demoradamente construímos, ao longo de muitos e laboriosos dias, a nossa igreja, são afinal (sabemo-lo sempre tarde de mais) uma coisa frágil, feita de vulnerável matéria.

Um dia alguém nos telefona anunciando a morte de um amigo e descobrimos que estamos, se possível, ainda mais sós, que à nossa volta cresceu o deserto e a noite é ainda mais escura e mais fria. Não é apenas um sentimento, é uma impressão sensível, física, uma mão sólida na garganta, sufocando-nos. Porque percebemos, de repente, que quem morreu fomos nós. E morrer da morte de um amigo é a mais difícil das mortes. Ficam sombras, não necessariamente as nossas, desconhecidos habitam agora a nossa casa falando línguas incompreensíveis e nós próprios nos tornámos estrangeiros. É revoltante. Porque é intolerável olhar para o lado (para o lado do coração) e não estar lá.



Manuel Pina

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