terça-feira, 8 de setembro de 2009

Lacrimas Profundere


O acto de chorar resulta de anos de evolução dos seres humanos e, ao contrário do que a leitura estritamente médica defende, as lágrimas podem significar mais do que um sintoma de dor. Gerar a simpatia ou provocar misericórdia são apenas alguns dos objectivos das chamadas lágrimas emocionais que um estudo da Universidade de Telavive agora revela.

Chorar pode servir para provocar simpatia ou pena nos outros. A garantia é de um investigador israelita, que decidiu analisar a evolução do choro. Segundo Oren Hasson, biólogo e investigador na Universidade de Telavive (UTA), as lágrimas são usadas para criar relações entre as pessoas.

O especialista lembra que do ponto de vista médico o choro é apenas sinónimo de dor ou stress. Uma situação que considera redutora. Num estudo, ontem publicado na revista cientifica Science Daily, Oren explica que lágrimas resultam de anos de evolução humana e são, mais do que uma reacção física, uma arma emocional, usada para reforçar as relações humanas.

O biólogo sublinha que o acto de chorar está ligado à evolução do comportamento e adianta que com as lágrimas as pessoas procuram essencialmente provocar simpatia e misericórdia de quem os rodeia, mas também muitos outros sentimentos.

"Chorar é um comportamento altamente evoluído", defende, em declarações à Science Dail.

O israelita decidiu investigar o choro devido às reacções das pessoas que iam ao seu consultório às consultas de terapia matrimonial.

Percebeu que além de lágrimas de sofrimento, havia muitas de emoção. Lágrimas estas que servem para reforçar e decifrar as relações entre as pessoas: "As lágrimas dão-nos pistas e informação fiável sobre a submissão, necessidades e ligações sociais entre as pessoas. A minha investigação tenta explicar quais são as razões evolutivas para as lágrimas de emoção", refere o investigador da Universidade de Telavive.

O estudo defende que as lágrimas se dividem em três categorias, consoante revelam alegria, tristeza ou sofrimento.

Além disso, é possível, refere o biólogo, identificar a autenticidade e a sinceridade dos choros.

"A minha análise sugere que o olhar enevoado e as lágrimas baixam as defesas e são sinais fiáveis de submissão, como um grito de ajuda, como uma demonstração de ligação mútua e, num grupo, como um sinal de coesão", afirmou Hasson.

Assim, chorar pode trazer benefícios sociais e familiares, uma vez que aproxima as pessoas e pode ajudar a cimentar uma relação de amizade, amorosa ou familiar.

"As lágrimas emocionais são também um sinal de conciliação, uma necessidade de ligação em tempos de sofrimento, e uma validação das relações entre a família, amigos e membros de um grupo", esclarece ainda o investigador.

De facto, chorar é um acto de partilha, em que as pessoas se revelam mais vulneráveis e, por isso, mais facilmente se podem aproximar.

Contudo, é sempre preciso ter atenção ao contexto, alerta o investigador.

Não se pode ignorar a herança cultural de uma sociedade, onde a expressão de emoções pode ser vista como um sinal de fraqueza. Nestes casos, o acto de chorar acaba muitas vezes por ser reprimido.

E há outros casos em que as lágrimas podem não ser a melhor opção, como por exemplo as situações num contexto profissional.

"A eficácia deste comportamento evolutivo depende sempre de quem e com quem se chora esse rio de lágrimas. E provavelmente isso não será eficaz em locais como o de trabalho, onde as emoções devem ser escondidas", conclui o investigador.

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