domingo, 15 de março de 2009

Israeli Committee Against House Demolitions (ICAHD)


Sempre que se recolhe para uma noite de descanso Jeff Halter não sabe a que horas será o despertar. “Às vezes, o telefone toca às cinco da manhã. Os palestinianos sabem que nós existimos e quando vêem os bulldozers aproximarem-se das suas casas, telefonam-nos. Vamos até lá, pomo-nos à frente das máquinas ou acorrentamo-nos dentro das casas. Empatamos tempo e impedimos que aqueles bulldozers se dirijam para outras casas. Enquanto isso, chamamos jornalistas e diplomatas e transformamos a situação num espectáculo público. Como Israel quer destruir as casas sem que ninguém veja, os bulldozers retiram-se.”
É um israelita que assim fala.
Jeff Halper nasceu há 63 anos nos Estados Unidos, mas nos anos 1970, em busca da sua identidade judaica instalou-se em Israel. Em 1997, fundou o Comité Israelita Contra a Demolição de Casas (ICAHD) – um grupo apolítico, não-violento, que luta contra a ocupação israelita dos territórios palestinianos – e com esse activismo foi proposto para prémio Nobel da Paz, em 2006.
Segundo o ICAHD, desde 1967 Israel já demoliu mais de 24 mil casas nos territórios palestinianos. O problema é, todavia, bem mais antigo. "Em 1948, nem todos os palestinianos deixaram Israel", conta Jeff Halper. "Alguns desceram o vale ou foram para o monte ao lado para se esconderem. Fugiram para se esconderem dos combates (Guerra da independência, após a criação de Israel). Mas quando a guerra acabou, Israel não permitiu que regressassem às suas casas. Hoje, encurralados nos sítios onde, há 60 anos, encontraram refúgio."
Cerca de 150 mil palestinianos e beduínos vivem, hoje, nestas “aldeias não reconhecidas”, sem direito a água, electricidade, ruas ou escolas. Sobre cada casa recai uma ordem de demolição, por ilegalidade. É quando os bulldozers israelitas se aproximam que muitos palestinianos laçam o alerta a Jeff Halper.
Com um staff reduzido de 50 pessoas, cerca de 10 activistas permanentes e muitos voluntários, o ICAHD já recuperou mais de 160 casas. “Sempre que reconstruímos uma casa, reafirmamos: Esta terra pertence a dois povos e temos de viver juntos aqui!”, diz.
Jeff admite que, nas acções de resistência em que participa, o facto de ser israelita e judeu é, para ele, uma vantagem. “Sou preso a toda a hora e, às vezes, eles intimidam-me, mas não me magoam. Se fosse palestiniano disparavam. Estou completamento protegido.”


Margarida Mota in Expresso, 14 de Março de 2009

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