sábado, 26 de dezembro de 2009

Eternal Sunshine of The Spotless Mind

" How happy is the blameless Vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd."
Alexander Pope


Uma autêntica preciosidade do cinema...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

...

"Todas as coisas tombam e são construídas de novo/ E os que as controem outra vez são felizes."
Yeat




Os amigos, pedra firme sobre a qual demoradamente construímos, ao longo de muitos e laboriosos dias, a nossa igreja, são afinal (sabemo-lo sempre tarde de mais) uma coisa frágil, feita de vulnerável matéria.

Um dia alguém nos telefona anunciando a morte de um amigo e descobrimos que estamos, se possível, ainda mais sós, que à nossa volta cresceu o deserto e a noite é ainda mais escura e mais fria. Não é apenas um sentimento, é uma impressão sensível, física, uma mão sólida na garganta, sufocando-nos. Porque percebemos, de repente, que quem morreu fomos nós. E morrer da morte de um amigo é a mais difícil das mortes. Ficam sombras, não necessariamente as nossas, desconhecidos habitam agora a nossa casa falando línguas incompreensíveis e nós próprios nos tornámos estrangeiros. É revoltante. Porque é intolerável olhar para o lado (para o lado do coração) e não estar lá.



Manuel Pina

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

À Sombra da Memória


“A vida em si, cada momento da vida, cada gota sua, aqui, neste instante, agora, ao sol, era suficiente. Demasiado, até.”

Há já alguns anos, no Porto, eu quase tive uma rua assim, e um jardim profundo muito perto, e outro, não muito longe, onde a brancura dos cisnes abandonava a água para invadir a sombra azul dos jacarandás.
As casas não se distinguiam umas das outras na sua banalidade forrada de azulejos, sem degraus exteriores a descer ou a subir ao portal, é certo.
As cidades, por toda a parte, tornaram-se insuportáveis. Só algumas muito raras escapam à danação: terão que ser pequenas e de província, naturalmente.
O Porto, além das privilegiadas residências cercadas de muros espessos como muralhas, tem ainda um ou outro jardim, uma ou outra rua a lembrar aquela em que me refugiei. Mas a cidade o que tem, sobretudo, é carácter – um carácter que faz do cidadão do Porto o mais belo estilo de se ser português.
Esta cidade, cujo espírito exasperado e viril fez do granito escuro das suas pedras espelho da própria alma; esta cidade, cuja gente tem uma rudeza de fala e de gestos que lhe vai a matar com o seu ódio à futilidade e à hipocrisia; esta cidade, que herdou da aspereza do solo e do carão duro do rio uma solidez que leva às coisas da arte e do coração; esta cidade, deixa-me repeti-lo, com o seu carácter eminentemente democrático e popular, torna, por comparação, o resto do país, com excepção do Alentejo e do Alto Douro, completamente amorfo. A maior virtude do Porto foi Almeida Garrett, o mais genial dos seus filhos, quem a pôs em evidência, ao dizer que “se, na nossa cidade, há muito quem troque o ‘b’ por ‘v’, há muito pouco quem troque a liberdade pela servidão”. (…)

O Porto é a mais fechada das nossas cidades (daí parecer tão secreta), e eu nunca procurei ganhar a sua confiança, quando a conheci já pertencia a outras luzes, a outras sombras. Vivendo nela como se nela não vivesse. (...)

Os pescadores do paredão, cuja arte de paciência me lembra os miniaturistas persas, sonhando com fanecas ou enguias ou robalos; vou esquecer-me disso, porque o bonito é o repuxo, sobretudo quando o sol se mistura com as águas, e tudo é poeira doirada, como o Cabedelo, que volto a contemplar. Esta é a luz que gostaria de levar nos olhos quando morrer – a luz da Foz, atravessada por duas ou três gaivotas.

Eugénio de Andrade



quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O Deserto Tatuado


Eu devia estar meio louco
quando parti assim sozinho de bicicleta
pedalando em direcção aos trópicos levando comigo
um medicamento para o qual ninguém achara ainda a doença e esperando
chegar a tempo


passei por uma aldeia de papel com vidro por cima
onde os exploradores pela primeira vez encontraram
o silêncio e o ensinaram a falar
onde os velhos ficavam sentados à porta
de casa matando sem piedade a areia

irmãos gritei-lhes
digam-me quem levou daqui o rio
onde vou achar agora um sítio bom para me afogar

Richard Shelton




segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Hungry Heart




Got a wife and kids in baltimore jack.I went out for a ride and I never went back.Like a river that dont know where its flowing.I took a wrong turn and I just kept going.Everybodys got a hungry heart.Everybodys got a hungry heart.Lay down your money and you play your part.Everybodys got a hungry heart.I met her in a kingstown bar.We fell in love I knew it had to end.We took what we had and we ripped it apart.Now here I am down in kingstone again.Everybodys got a hungry heart...Everybody needs a place to rest.Everybody wants to have a home.Dont make no difference what nobody says.Aint nobody like to be alone.Everybodys got a hungry heart...

Bruce Springsteen

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Like a Rolling Stone

Bob Dylan sem tirar nem por...




Once upon a time you dressed so fine.You threw the bums a dime in your prime, didn't you?People'd call, say, "Beware doll, you're bound to fall."You thought they were all kiddin' you.You used to laugh about.Everybody that was hangin' out.Now you don't talk so loud.Now you don't seem so proud.About having to be scrounging for your next meal. How does it feel.How does it feel.To be without a home.Like a complete unknownLike a rolling stone? You've gone to the finest school all right, Miss Lonely.But you know you only used to get juiced in it.And nobody has ever taught you how to live on the street.And now you find out you're gonna have to get used to it.You said you'd never compromise.With the mystery tramp, but now you realize.He's not selling any alibis.As you stare into the vacuum of his eyes.And ask him do you want to make a deal? How does it feel.How does it feel.To be on your own. With no direction home Like a complete unknown. Like a rolling stone?You never turned around to see the frowns on the jugglers and the clowns.When they all come down and did tricks for you. You never understood that it ain't no good.You shouldn't let other people get your kicks for you. You used to ride on the chrome horse with your diplomat. Who carried on his shoulder a Siamese cat. Ain't it hard when you discover that. He really wasn't where it's at. After he took from you everything he could steal.How does it feel. How does it feel. To be on your own.With no direction home.Like a complete unknown Like a rolling stone?Princess on the steeple and all the pretty people.They're drinkin', thinkin' that they got it made.Exchanging all kinds of precious gifts and things.But you'd better lift your diamond ring, you'd better pawn it babe. You used to be so amused .At Napoleon in rags and the language that he used. Go to him now, he calls you, you can't refuse When you got nothing, you got nothing to lose You're invisible now, you got no secrets to conceal. How does it feel.How does it feel. To be on your own With no direction home.Like a complete unknown.Like a rolling stone?

sábado, 10 de outubro de 2009

AIR

"...canções que soam como se tivessem sido feitas às quatro da madrugada, num bar com vista panorâmica, no 45º andar de uma torre state of the art retrofuturista, a separação do mundo exterior reflectida na textura dos temas. 'Love 2' é atravessado, como se de espectros se tratasse, pelo som dos painéis de cortiça que forram as paredes, dos vidros duplos e dos quilómetros de alcatifa que calafetam este sítio feliz mas sedado, isolando-o daquele outro que se vê da janela." J.M.L.




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

a violent yet flammable world


"A felicidade, em pessoas inteligentes, é das coisas mais raras que conheço."

Oceans shape the sides.Touching down in the spaces.Soaking from a warm goodbye.An early rise offers kindly.Tonight I sleep to dream.Of a place that's calling meIt is always just a dream.Still I cannot forget what I have seen.The crowd's hard to believe.At their faces I'm looking.But your feet I'm following.In soft steps on a path the way you lead.I don't want to lose myselfIt's a whisper.It's a funny thing.We fold like icicles on paper shelves.It's a pity to appear this way.You're flying when your foreign eyes.Trace the heights of the city.Steaming.With rocks and clouds we breathe.Violent skies.A shock to my own body.Speech is wild.Alive sacred and sounding.Wild from across and beyond, oh far beyond.I don't want to lose myself.It's a whisper.It's a funny thing.We fold like icicles on paper shelves.It's a pity to appear this way.Hold, hold, hold on.I swearI saw it somewhere.Waving, wading, one, two, three, above the wakes that follow.Hold, hold, hold on I swear I saw it somewhere.Waving, wading, one, two, three, above the wakes that follow.I don't want to lose myself.Tonight I sleep to dream of a place that's calling me.It's a whisper It is always just a dream. It's a funny thing.Still I cannot forget what I have seen.We fold like icicles on paper shelves.With rocks and clouds we breathe, a shock to my own body.It's a pity. Alive sacred and sounding. To appear this way from across and beyond, oh far beyond.

domingo, 4 de outubro de 2009

Free Hugs

Sometimes, a hug is all what we need.

Free hugs is a real life controversial story of Juan Mann, a man whos sole mission was to reach out and hug a stranger to brighten up their lives. In this age of social disconnectivity and lack of human contact, the effects of the Free Hugs campaign became phenomenal. As this symbol of human hope spread accross the city, police and officials ordered the Free Hugs campaign BANNED. What we then witness is the true spirit of humanity come together in what can only be described as awe inspiring.
How it all started
I'd been living in London when my world turned upside down and I'd had to come home. By the time my plane landed back in Sydney, all I had left was a carry on bag full of clothes and a world of troubles. No one to welcome me back, no place to call home. I was a tourist in my hometown.Standing there in the arrivals terminal, watching other passengers meeting their waiting friends and family, with open arms and smiling faces, hugging and laughing together, I wanted someone out there to be waiting for me. To be happy to see me. To smile at me. To hug me.So I got some cardboard and a marker and made a sign. I found the busiest pedestrian intersection in the city and held that sign aloft, with the words "Free Hugs" on both sides.And for 15 minutes, people just stared right through me. The first person who stopped, tapped me on the shoulder and told me how her dog had just died that morning. How that morning had been the one year anniversary of her only daughter dying in a car accident. How what she needed now, when she felt most alone in the world, was a hug. I got down on one knee, we put our arms around each other and when we parted, she was smiling.Everyone has problems and for sure mine haven't compared. But to see someone who was once frowning, smile even for a moment, is worth it every time.


and Free Hugs Porto...

sábado, 3 de outubro de 2009

The time with lost our way



"Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância."


My mind is full bursting over.With all these things I can’t remember.Every little single memory reminds me of you.My eyes were weary with all these tears.You left your shadow in my dreams.And all my doubts seem to disappear when you came along.Flowers melting up into the sky.Hear my heart where our love colides.We hear the songs we found in the times we lost our way.Gentle memories replace our tears.All the love we had is still right here.We hear the songs we found in the time we lost our way.From without words can not describe.What caused the stars to fall deep inside.Every little single memory reminds me of you.Our days are gone lost forever.Reflecting light glistening under water.Naturally this could be everything that seems so unreal.Flowers melting up into the sky.Hear my heart where our love colides.We hear the songs we found in the time we lost our way.Gentle memories replace our tears.All the love we had is still right here.We hear the songs we found in the time we lost our way.Flowers melting up into the sky.Hear my heart where our love colides.We hear the songs we found in the time we lost our way.Gentle memories replace our tears.All the love we had is still right hereWe hear the songs we found in the time we lost our way.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

The Man who sold the World

Mr David Bowie...

Ive nothing much to offer.Theres nothing much to take.Im an absolute beginner.And Im absolutely sane.As long as were together.The rest can go to hell.I absolutely love you.But were absolute beginners.With eyes completely open.But nervous all the same.If our love song.Could fly over mountains.Could laugh at the ocean sail over heartaches second time.Just like the films.Theres no reason.To feel all the hard times.To lay down the hard lines.Its absolutely true.Nothing much could happen.Nothing we cant shake.Oh were absolute beginners.With nothing much at stake.As long as youre still smiling.Theres nothing more I need.I absolutely love you.But were absolute beginners.But if my love is your love.Were certain to succeed.If our love song.Could fly over mountains.Could laugh at the ocean sail over heartaches second time.Just like the films.Theres no reason.To feel all the hard times.To lay down the hard lines.Its absolutely true.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Secreta Verdade



Conheço gente
que pinta de silêncio a memória.
E vai plantando flores no deserto da vida.
Sorrindo apenas.
Um dia vim ao mundo.
Acordei.
Procurei entender as cores do silêncio.
E sonhei.
A.M.A.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Any Road


“If you don't know where you're going, any road will take you there
George Harrison



sábado, 12 de setembro de 2009

Segue o teu destino

"...Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada."
Fernando Pessoa
[1 Outubro 2008 - 30 Setembro 2009]

´

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Lacrimas Profundere


O acto de chorar resulta de anos de evolução dos seres humanos e, ao contrário do que a leitura estritamente médica defende, as lágrimas podem significar mais do que um sintoma de dor. Gerar a simpatia ou provocar misericórdia são apenas alguns dos objectivos das chamadas lágrimas emocionais que um estudo da Universidade de Telavive agora revela.

Chorar pode servir para provocar simpatia ou pena nos outros. A garantia é de um investigador israelita, que decidiu analisar a evolução do choro. Segundo Oren Hasson, biólogo e investigador na Universidade de Telavive (UTA), as lágrimas são usadas para criar relações entre as pessoas.

O especialista lembra que do ponto de vista médico o choro é apenas sinónimo de dor ou stress. Uma situação que considera redutora. Num estudo, ontem publicado na revista cientifica Science Daily, Oren explica que lágrimas resultam de anos de evolução humana e são, mais do que uma reacção física, uma arma emocional, usada para reforçar as relações humanas.

O biólogo sublinha que o acto de chorar está ligado à evolução do comportamento e adianta que com as lágrimas as pessoas procuram essencialmente provocar simpatia e misericórdia de quem os rodeia, mas também muitos outros sentimentos.

"Chorar é um comportamento altamente evoluído", defende, em declarações à Science Dail.

O israelita decidiu investigar o choro devido às reacções das pessoas que iam ao seu consultório às consultas de terapia matrimonial.

Percebeu que além de lágrimas de sofrimento, havia muitas de emoção. Lágrimas estas que servem para reforçar e decifrar as relações entre as pessoas: "As lágrimas dão-nos pistas e informação fiável sobre a submissão, necessidades e ligações sociais entre as pessoas. A minha investigação tenta explicar quais são as razões evolutivas para as lágrimas de emoção", refere o investigador da Universidade de Telavive.

O estudo defende que as lágrimas se dividem em três categorias, consoante revelam alegria, tristeza ou sofrimento.

Além disso, é possível, refere o biólogo, identificar a autenticidade e a sinceridade dos choros.

"A minha análise sugere que o olhar enevoado e as lágrimas baixam as defesas e são sinais fiáveis de submissão, como um grito de ajuda, como uma demonstração de ligação mútua e, num grupo, como um sinal de coesão", afirmou Hasson.

Assim, chorar pode trazer benefícios sociais e familiares, uma vez que aproxima as pessoas e pode ajudar a cimentar uma relação de amizade, amorosa ou familiar.

"As lágrimas emocionais são também um sinal de conciliação, uma necessidade de ligação em tempos de sofrimento, e uma validação das relações entre a família, amigos e membros de um grupo", esclarece ainda o investigador.

De facto, chorar é um acto de partilha, em que as pessoas se revelam mais vulneráveis e, por isso, mais facilmente se podem aproximar.

Contudo, é sempre preciso ter atenção ao contexto, alerta o investigador.

Não se pode ignorar a herança cultural de uma sociedade, onde a expressão de emoções pode ser vista como um sinal de fraqueza. Nestes casos, o acto de chorar acaba muitas vezes por ser reprimido.

E há outros casos em que as lágrimas podem não ser a melhor opção, como por exemplo as situações num contexto profissional.

"A eficácia deste comportamento evolutivo depende sempre de quem e com quem se chora esse rio de lágrimas. E provavelmente isso não será eficaz em locais como o de trabalho, onde as emoções devem ser escondidas", conclui o investigador.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

domingo, 6 de setembro de 2009

O gaijo da 'Friday I'm in Love'


«Quando eu tinha cinco anos, a minha irmã punha-se a ouvir o Help!, dos Beatles, e eu sentava-me nas escadas a ouvir, do lado de fora da porta. Aquilo fez-me perceber que havia um outro mundo, além daquele que me rodeava de forma imediata. As melodias daquelas músicas são tão fantásticas, e a imaginação que elas demonstram é surreal. É tão perfeito que me dá vontade de chorar. Oiço Help! e fico cheio de esperança de que o mundo possa ser um sítio melhor»
Robert Smith




O que me lembro do alvorecer dos Cure no panorama musical internacional sofre desde já de alguma bruma da memória. Desde os primeiros e delirantes singles da banda que me interessei por divulgar o mais possível, através do programa Som da Frente, o som dos Cure. O seu som era tremedamente novo, descomplexado e apontava caminhos novos para a pop/rock, tanto no que diz respeito à invenção musical, como pelo intrincado dos códigos de conduta nada conformistas, que utilizavam a projecção visual como um dos elementos fulcrais de um grupo em que o talento era mais que suficiente para lhes garantir um mega stardom.
Robert Smith tornou-se exactamente naquilo que afinal pretendia, tomando o seu lugar na nova iconografia pós-punk, trabalhando a imagem, o desacerto comportamental e o choque no quotidiano. A sua passagem pelos Banshees, de Siouxsie Sioux também ajudou a que fosse considerado como um grande instrumentista, estatuto de que era constatemente apeado pelos media ingleses.

António Sérgio



domingo, 30 de agosto de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

SM


"Sábio é quem monotoniza a existência, pois cada pequeno incidente
tem privilégio de maravilha."
Bernardo Soares

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Anjo Mudo

aqueles que têm nome e nos telefonam
um dia emagrecem - partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz

arquivamos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas

acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração

e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta
nem a vida nem o que dela resta nos consola
a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa

assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amamos e não voltaram
a telefonar

"Só espero que meia dúzia de doidos me leiam agora e isso os toque."
Al berto




sábado, 8 de agosto de 2009

Abismo Portátil em Forma de Coração


Barragem de Bemposta 2009


Um professor diante da sua turma de filosofia, sem dizer uma palavra, pegou num frasco grande e vazio de maionese e começou a enchê-lo com bolas de golfe. A seguir perguntou aos estudantes se o frasco estava cheio. Todos estiveram de acordo em dizer que 'sim'.


O professor tomou então uma caixa de fósforos e a vazou dentro do frasco de maionese. Os fósforos preencheram os espaços vazios entre as bolas de golfe. O professor voltou a perguntar aos alunos se o frasco estava cheio, e eles voltaram a responder que 'Sim'.


Logo, o professor pegou uma caixa de areia e a vazou dentro do frasco. Obviamente que a areia encheu todos os espaços vazios e o professor questionou novamente se o frasco estava cheio. Os alunos responderam-lhe com um 'Sim' retumbante.


O professor em seguida adicionou duas chávenas de café ao conteúdo do frasco e preencheu todos os espaços vazios entre a areia. Os estudantes riram-se nesta ocasião. Quando os risos terminaram, o professor comentou:


"Quero que percebam que este frasco é a vida. As bolas de golfe são as coisas importantes, a família, os filhos, a saúde, a alegria, os amigos, as coisas que vos apaixonam. São coisas que mesmo que perdessemos tudo o resto, a nossa vida ainda estaria cheia. Os fósforos são outras coisas importantes, como o trabalho, a casa, o carro etc. A areia é tudo o resto, as pequenas coisas. Se primeiro colocamos a areia no frasco, não haverá espaço para os fósforos, nem para as bolas de golfe. O mesmo ocorre com a vida. Se gastamos todo o nosso tempo e energia nas coisas pequenas, nunca teremos lugar para as coisas que realmente são importantes. Prestem atenção às coisas que realmente importam. Estabeleçam as vossas prioridades, e o resto é só areia."

Um dos estudantes levantou a mão e perguntou: Então e o que representa o café? O professor sorriu e disse: "Ainda bem que perguntas! Isso é só para vos mostrar que por mais ocupada que a vossa vida possa parecer, há sempre lugar para tomar um café com um amigo"


segunda-feira, 3 de agosto de 2009

distance equals rate times time





I waited for you winterlong
You seemed to be where I belong
It's all illusion anyway

If things should ever turn out wrong
And all the love we have is gone
It won't be easy
On that day

Waiting to follow
Through the dream light of your way
Is not so easy for me now

After time has passed your way
Things we thought of yesterday
Come back now Come back now Whoahohhh

Waiting to follow
Through the dream light of your way
Is not so easy for me now

After time has passed your way
Things we thought of yesterday
Come back now
Come back now
Whoahohhh

I waited for you winterlong

domingo, 19 de julho de 2009

Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Ar se Tornou Irrespirável

Vamos lá então juntos recitar este belo acordo que nos vai ligar:

Juro pela vida nunca me trair, juro pela vida sempre resistir, juro pela vida nunca obedecer a qualquer vontade fora do meu ser, juro pela vida sempre acreditar no poder sagrado que nos faz amar, juro pela vida sempre contrapor o valor da festa contra o tédio em vigor, juro pela vida todo me entregar à paixão do jogo, do corpo e do criar...Radical, radical, radical, hei-de ser no agir, no pensar...Só na luta há festa, só na luta há gozo para ter um destino aventuroso. Eis o Graal, nosso Graal! O mundo é nosso, vamos a ele!... O mundo é nosso, não há que ter medo!... O mundo é nosso, vamos com ele brincar!...

Adolfo Luxúra Canibal

segunda-feira, 13 de julho de 2009

The Future is Unwritten

Born John Graham Mellor, August 21, 1952, in Ankara, Turkey; died of a heart attack, December 22, 2002, in Broomfield, Somerset, England. Musician, actor, and activist. As the guitarist, lead singer, and a songwriter for the British punk band The Clash, Joe Strummer brought unique political sensibilities to raucous punk music, as well as diverse musical influences from reggae to rockabilly.


"As the front man of The Clash from 1977 onwards, Joe Strummer changed people's lives forever."



Joe Strummer's favorite phrase

the future is unwritten...

domingo, 12 de julho de 2009

My Future by Leonard Cohen


"Poetry is just the evidence of life. If your life is burning well, poetry is just the ash."

Leonard Cohen


sábado, 11 de julho de 2009

SCENIC WORLD

Beirut is an American band. It began as the solo musical project of 23-year-old Santa Fe, New Mexico native Zachary Francis Condon, and later evolved into a band led by Condon. Their first performances were in May 2006, to support the release of their debut album,Gulag Orke Star The music combines elements of Eastern European and folk with Western pop music.


Discografia:

The Joys of Losing Weight

Gulag Orkestar ( 2006)

The Flying Club Cup ( 2007)

Live at the Music Hall of Williamsburg (2009)

"One of 2006's most unexpected indie success stories, Beirut combines a wide variety of styles, from pre-rock pop music and Eastern European gypsy styles to the alternately plaintive and whimsical indie folk of the Decemberists and the lo-fi, homemade psychedelic experimentation of Neutral Milk Hotel. That the central figure in all of this is a teenager from Albuquerque, NM, makes Beirut's debut album, Gulag Orkestar, all the more surprising."


Beirut, the capital and largest city of Lebanon with a population of over 2.1 million as of 2007.





sexta-feira, 10 de julho de 2009

Daydream Nation


"Push it away the world looks red
People with fish eyes
The ground sucks
Walk on my fingertips
Displacing the fog
The weight of my body
Is too much to bear
The memory drained
The life from the doll
The ocean of insects
Moved like a sheet
The immovable fact
Buried my mind
In a horsehair coat
In a pile
On the floor"
Sonic Youth (USA):

Thurston Moore - Voz, Guitarra e Génio
Lee Ranaldo - Voz e Guitarra
Kim Gordon - Baixo, Guitarra e Voz
Mark Ibold - Baixo
Steve Shelley - Bateria

Discografia:
1992 - Dirty
1990 - Goo
1987 - Sister
1986 - EVOL
1983 - Confusion is Sex

"Sonic Youth were one of the most unlikely success stories of underground American rock in the '80s. Sonic Youth rarely rocked, though they were inspired directly by hardcore punk, post-punk, and no wave. Instead, their dissonance, feedback, and alternate tunings created a new sonic landscape, one that redefined what rock guitar could do."
Stephen Thomas Erlewine





segunda-feira, 29 de junho de 2009

Love will not tear us apart



"As nossas opiniões não poderão sobreviver se não tivermos oportunidade de lutar por elas."
Thomas Mann (1875 - 1955)





Por tudo aquilo que aprendi contigo.Pela tua forma de pensar e estar neste mundo que tanto admiro. Pela força que tens dentro de ti e que move montanhas.Pela tua visão simples e humilde do que viver significa. Pela amizade que desde sempre foi o mais importante. Tu sabes.

I just want to say, you give me the words!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

They Don't Care About Us




Michael Jackson (1958 - 2009)

Não será descabido acreditar que Michael Joseph Jackson morreu com a suprema amargura de saber que o Mundo já não necessitava dele enquanto esteta, mas, tão-só, como ícone de um passado que se quer cristalizado.
Aliás, a exemplo do músico, os próprios fãs recusavam-se a encarar a vida pós-"Invincible" (derradeiro álbum de estúdio, de 2001) como percurso válido em termos de memórias afectivas. Seria, sempre, doloroso demais.
Sétimo de nove filhos, Michael tinha dez anos quando se deu a conhecer à música. Primeiro, nos Jackson 5; posteriormente, nos The Jacksons e, enfim - terá pensado ele, após permanentes conflitos com o pai -, em nome próprio.
A solo, a ascensão estética não conhecia o vocábulo "engulhos". Nessa perspectiva, "Off the wall" e "Thriller" são paradigmáticos. Aliás, o segundo mantém o estatuto de álbum mais vendido, com 100 milhões de exemplares espalhados pelo Mundo. Sobre os arredores, não há dados consistentes...
No entanto, algo começou a ceder. Não faltou quem se apressasse a atribuir alegados desvarios a eventuais excentricidades. Pelo menos, elas valeram-lhe uma alcunha, Wacko Jacko, cortesia do jornal britânico "The Sun".
A lista não é infindável, mas prima pela robustez. Alegações de abuso sexual sobre crianças e casamentos sem lógica aparente não são dos actos menos polémicos.
Inclusivamente, o enlace com Lisa Marie Presley - filha de outro rei, Elvis - não demorou a ser considerado mais como golpe publictário do que propriamente fruto de muito amor, carinho e devoção.
Basta atentar que a descendência do autor de "Beat it" jamais obteve da comunicação social o tratamento benigno prestado a rebentos de outros "excêntricos".
De qualquer forma, o próprio Michael Jackson também não facilitava. Criou um mundo de fantasia e alienação no rancho californiano Neverland - Peter Pan, com certeza -, propriedade em que, alegadamente, terá praticado actos de pedofilia. Após acordos extra-judiciais, não foi apenas a credibilidade do cantor que ficou abalada. As finanças também se ressentiram.
Nem sequer faltou o exílio. Muito provavelmente, dourado. Foi para o Bahrain. Onde tentou esquecer e ser esquecido. Há sempre algo mais forte.
Há poucos meses, anunciou 50 concertos em Londres, Inglaterra. Tudo em grande. Como o ego, como o alheamento...
O primeiro seria a 13 de Julho. Não chegou a ser o último. O coração resolveu de outra forma. Ajudou à lenda. Porque nunca se saberá como seria o Michael Jackson do próximo mês. Na verdade, quem foi Michael Jackson?


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Dirty Magic



Que os punks estejam zangados e sejam refilões, é o que se espera deles. Que consigam sair da toca e chegar a dezenas de milhões de pessoas fazendo oposição política é coisa que não lembra ao diabo. Foi o que Dexter Holland e Kevin Wasser fizeram, punk carregado de cólera em músicas de três minutos de eficácia e com refrões cheios de alma.
"When we were young the future was so bright
The old neighborhood was so alive
And every kid on the whole damn street
Was gonna make it big in every beat.
Chances blown, nothing's free
Longing for what used-to-be
Still it's hard, hard to see
Fragile lives, shattered dreams."


domingo, 21 de junho de 2009

Quero ser livre insincero


"A ânsia de compreender, que para tantas almas nobres substitui a de agir, pertence à esfera da sensibilidade. Substitui a Inteligência à energia, quebrar o elo entre a vontade e a emoção, despindo de interesse todos os gestos da vida material, eis o que, conseguido, vale mais que a vida, tão difícil de possuir completa, e tão triste de possuir parcial. Diziam os argonautas que navegar é preciso, mas que viver não é preciso. Argonautas, nós, da sensibilidade doentia, digamos que sentir é preciso, mas que não é preciso viver. "


Fernando Pessoa



sábado, 6 de junho de 2009

Best Portuguese Film

“Era uma vez um filho que queria ter um pai que quisesse ter um filho.”
"O filme é uma fábula de má comunicação e relações vazias, redimidas pelo sonho do único que ainda não foi corrompido. É uma história de quebras emocionais, sentimentos não desenvolvidos; em última análise o cancro ocidental contemporâneo que é a desproporção entre os valores da vida diária e o dinheiro. Para mim, mais importante que entender os mecanismos mentais por detrás de cada truque narrativo, trabalho de câmara, etc. é a capacidade de nos sentirmos invadidos e (mais ou menos) identificados com tudo. Isso provavelmente dirá algo sobre si."
Realizador: Luis Filipe Rocha
Ano: 1996
Com: José Afonso Pimentel, João Lagarto, Laura Soveral


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Reminiscência




"Não choro a perda da minha infância; choro que tudo, e nele a minha infância, se perca. É a fuga abstracta do tempo - que é meu, que me dói no cérebro físico pela recorrência repetida, involuntária, das escalas do piano lá de cima, terrivelmente anónimo e longínquo. É todo o mistério de que nada dura que martela repetidamente coisas que não chegam a ser música, mas são saudade, no fundo absurdo da minha recordação." Bernando Soares




sábado, 30 de maio de 2009

17 seconds



17 seconds of compassion;
17 seconds of peace;
17 seconds to remember love is the energy behind which all is created;
17 seconds to remember all that is good;
17 seconds to forget all your hurt and pain;
17 seconds of faith;
17 seconds to trust you again;
17 seconds of radiance;
17 seconds to send a prayer up;
17 seconds is all that you need.
Love is good and love is kind
Love is drunk and love is blind
Love is good and love is mine
Love is drunk all the time



sexta-feira, 29 de maio de 2009

Fundação Vítor Baía 99

O ex-guarda-redes do FC Porto, Vítor Baía, anunciou a criação de uma fundação que visa apoiar jovens desfavorecidos. Em declarações à comunicação social, Vítor Baía afirmou: "Provavelmente é a minha melhor defesa, o meu melhor jogo, o meu melhor título. Foi uma ideia de pai com alguns anos, que fui amadurecendo. É o pouco que posso fazer, espero que seja uma ajuda muito importante."



domingo, 24 de maio de 2009

Bob Marley (1945 - 1981)



Bob Marley was born Robert Nesta Marley in a small rural village in Jamaica and rose to become the most popular and beloved reggae artist in history. Standing a mere 5' 4" Marley was a charismatic sensitive soul who had a gift for translating the pain and politics of suppressed people into uplifting songs of deliverance. Like a messiah from the third world, he delivered messages of love and unity and pushed the underground sounds of reggae music into the world stage. Born of mixed heritage - his father a Jamaican born white man of British nationality and his mother a black Jamaican - Marley was ostracized as a child and struggled to come to terms with the duality of his racial identity. His conversion to the Rastafarian religion, a faith originating from early Christianity and Judaism in Egypt and Ethiopia, helped him find truth in a world filled with injustice and racism. Influenced by popular African American groups like Curtis Mayfield's "The Impressions", Bob Marley joined with childhood friends to form The Wailers, singing 'ska' and slow tempo 'rock steady' songs. The group dressed in matching suits and maintained the clean-cut look reminiscent of Motown groups of that era. After becoming a Rastafarian and reforming the group years later as "Bob Marley and The Wailers" Marley began to emerge as a prophetic musician promoting peace and higher consciousness.
At 32 years old, Marley was diagnosed with skin cancer on his toe and refused amputation because of his religious beliefs. In just four short years, cancer had consumed him, spreading to his brain, liver, lungs, and stomach - killing him at the age of thirty-six. Bob Marley is one of the most successful artists to come from the Caribbean and is revered as a legend of reggae music and the Rastafarian faith.
"None but ourselves can free our minds"
Guiltiness
Pressed on their conscience. oh yeah.
And they live their lives (they live their lives)
On false pretence everyday -Each and everyday. yeah.
These are the big fish
Who always try to eat down the small fish,
Just the small fish.
I tell you what: they would do anything
To materialize their every wish. oh yeah-eah-eah-eah.
Say: woe to the downpressors:
They'll eat the bread of sorrow!
Woe to the downpressors:
They'll eat the bread of sad tomorrow!
Woe to the downpressors:
They'll eat the bread of sorrow!
Oh, yeah-eah! oh, yeah-eah-eah-eah!


domingo, 17 de maio de 2009

Into my Arms



Esta gente cujo rosto
às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova

E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
De um tempo justo

Sophia de Mello Breyner

sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Sonha e serás livre de espírito, luta e serás livre na vida."

Não importa que retrato. Qualquer um: sério, sorrindo, arma em punho, com Fidel ou sem Fidel, dizendo um discurso nas Nações Unidas, ou morto, com o dorso nú e olhos entreabertos, como se do outro lado da vida ainda quisera acompanhar o rastro do mundo que teve que deixar, como se não se resignasse a ignorar para sempre os caminhos das infinitas criaturas que estavam por nascer. Sobre cada uma dessas imagens se poderia reflectir profundamente, de um modo lírico ou de um modo dramático, com a objectividade prosaica do historiador ou sisplesmente de alguém que se dispõe a falar do amigo que descobre haver perdido porque não o chegou a conhecer.
Che Guevara, se assim pode dizer, já existia antes de ter nascido. Che Guevara, se assim pode afirmar, continua existindo depois de morto. Porque Che Guevara é somente o outro nome do que há de mais justo e digno no espírito humano. O que devemos despertar para conhecer e conhecemos, para agregar o passo humilde de cada um ao caminho de todos.
"La Revolución se lleva en el corazón no en la boca para vivir de ella"


segunda-feira, 11 de maio de 2009

Everything That Happens Will Happen Today

"Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente."
Fernando Pessoa

sábado, 9 de maio de 2009

Abril Calling



É fácil ridicularizar a frase «não foi para isto que se fez o 25 de Abril». Eu não consigo fazê-lo. Uma vez vi a minha mãe caminhar pela rua uns metros à minha frente. Não esperava vê-la naquela parte da cidade, e corri para ela. Ao aproximar-me vi que ela estava a chorar, e ela, quando me viu, contou-me tão rapidamente e descontroladamente quanto as palavras lhe saiam que tinha decidido sair para resolver um problema que nos apoquentava mas que tinha sido tratada de forma arrogante por uma assistente social. A primeira frase que lhe saiu: «foi para isto que se fez o 25 de Abril?».
Eu poderia ridicularizar a frase, mas não consigo fazê-lo, tal como não conseguiria ridicularizar alguém que se sente traído. E a maneira como a frase saiu foi essa, a de alguém que se sente traído. O que faz muito sentido, se pensarmos que o 25 de Abril foi o dia por que essa pessoa se apaixonou por uma ideia de país a que o país (naturalmente?) não corresponde sempre. Seja como for: num país desiludido como o nosso, foi no dia 25 de Abril de 1974 que as pessoas se apaixonaram pelo futuro. E quando as pessoas se apaixonam passam a acreditar em coisas em que não acreditavam antes.
Acreditar ou não numa ideia faz toda a diferença. Para o explicar, vejamos: o Portugal em que o dia 25 de Abril de 1974 amanheceu era um país com censura, presos de opinião e polícia política. Quando entardeceu, Portugal era um dia em que todas estas coisas tinham acabado. Porquê? Não porque já se tivessem aprovado as leis que aboliriam estas coisas, nada disso, nem porque não se viesse a verificar no futuro ocorrências de algumas delas (voltou haver esporadicamente presos de opinião, e a censura é um conceito mais difícil de demarcar do que parece à primeira vista). Mas, no entanto, podemos afirmar que a censura acabou nesse dia, como acabou a polícia política e a existência de presos políticos. Isso aconteceu porque nesse dia as pessoas chegaram definitivamente à conclusão de que essas coisas eram inadmíssiveis e que no Portugal futuro elas não poderiam existir.
Pode parecer pouco, mas a crença geral na admissibilidade da censura, dos presos de opinião ou da polícia política é a principal razão para que estas coisas sejam inadmissíveis.
É curioso, não? Muito mais coisas se sustentam na crença do que estaríamos inicialmente dispostos a conceder. É por isso que é preciso ser cuidadoso nas escolhas das crenças.